PRIVATIZAÇÕES, CORRUPÇÃO E A AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL FORAM ALGUNS DOS TEMAS QUE ESQUENTARAM O ENCONTRO.


No último encontro antes do primeiro turno das eleições, os sete presidenciáveis participaram de um debate tenso na noite desta quinta-feira (3/10) no estúdio da TV Globo, no Rio de Janeiro. Participaram Levy Fidelix (PRTB), Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB), Eduardo Jorge (PV), Luciana Genro (PSOL), Aécio Neves (PSDB) e o Pastor Everaldo (PSC). 

Os candidatos fizeram perguntas entre si com tema livre e com temas definidos por sorteio. O debate durou duas horas e meia e foi dividido em quatro blocos.

As candidatas do PT, Dilma Rousseff, e do PSDB, Marina Silva, trocaram farpas apesar da advertência do mediador William Bonner, após o tempo previsto para o embate entre as duas já ter se esgotado. Na discussão, antes dos microfones serem cortados, Marina disse que Dilma tinha um jeito um tanto atrapalhado de falar as coisas.

Antes dessa discussão, Marina questionou a petista sobre o fato de ela não ter entregue o programa de governo e não ter cumprido seus compromissos de campanha feitos em 2010. "Eu cumpri todos os meus compromissos, hoje o Brasil pratica a menor taxa de juros de toda a sua história, demos autonomia para as investigações", rebateu Dilma. E levantou dúvidas sobre a capacidade da adversária do PSB governar o país. "Quem pode achar que farão melhor se nunca construíram um programa social, como o PT."

Na réplica, a candidata do PSB ironizou, dizendo que houve uma "demissão premiada" de Paulo Roberto Costa. E Dilma atacou: "O seu diretor, nomeado por você, de fiscalização do Ibama, foi afastado pelo meu governo por desvio de recursos. E nem por isso eu saio por aí dizendo que você sabia da corrupção. Sejamos honestas."

Antes do embate entre as duas, o candidato do PRTB, Levy Fidelix, indagou o Pastor Everaldo (PSC) sobre a questão de segurança pública. "Hoje o bandido está solto nas ruas e o cidadão de bem está preso dentro de sua casa", disse Everaldo, destacando que sua coligação propôs a criação do Ministério da Segurança Pública para coibir, dentre outras coisas, as drogas que afetam os jovens do país. Estamos querendo reequipar, reaparelhar e sincronizar toda a polícia do Brasil", reiterou.

Em réplica, Fidelix afirmou: "O nosso governo está engavetando o reajuste do exército, marinha e aeronáutica. Eles não fazem nada a não ser dar dinheiro a quem não precisa, principalmente os cubanos". "O PSC tem lutado para colocar em votação a PEC 300, que estabelece a dignidade salarial do policial. Infelizmente o governo não deixa votar", finalizou Everaldo.

Levy Fidelix (PRTB) continuou o embate com Luciana Genro (PSOL) e a chamou de guerrilheira para perguntar sobre segurança pública e combate às drogas. "Você esteve em Cuba, na Venezuela, e treinou muito bem a guerrilha. Estudei você antes de vir para cá", disse Levy.

"Hoje vivemos uma verdadeira guerra aos pobres ao invés de uma guerra. A polícia pacificadora não funciona. A guerra às drogas não acabou com o tráfico, apenas aprisiona negros e pobres. Por isso defendemos o fim desta lógica de segurança pública. Uma política que venha para defender os direitos humanos e não violá-los", respondeu Luciana, que disse que até Fernando Henrique (PSDB) admitiu que a guerra às drogas não acabou com o problema do narcotráfico. Luciana reforçou sua proposta de desmilitarizar a polícia, com valorização do salário dos policiais.

Na réplica, Levy disse que falta aparato à polícia e acusou Luciana de fazer apologia às drogas e ao aborto. Ainda na troca de farpas, a candidata do PSOL negou fazer essas apologias. "Apenas não faço defesa que o jovem porque fuma maconha seja encarcerado."
Em seguida, Luciana questionou Marina Silva (PSB) sobre sua proposta para segurança pública, se seria uma política semelhante àquela defendida pelo PSDB. Marina reagiu à comparação dela com tucanos. "Você faz questão de me colocar no mesmo patamar daqueles que eu enfrento. Isso é política de conveniência", rebateu Marina.

Luciana havia dito que Marina poderia ceder a pressões na segurança, como o teria feito em temas ligados ao agronegócio, sobre independência do Banco Central e na pauta LGBT. "Bastaram quatro tuítes do Silas Malafaia para você voltar atrás no seu programa na defesa de direitos LGBT", afirmou.

Especificamente sobre segurança, Marina respondeu exaltando a experiência do programa Pacto Pela Vida, promovido pelo falecido Eduardo Campos em Pernambuco, e ressaltou sua proposta de reforçar a parceria do governo federal com os Estados através de um fundo nacional para segurança pública. Marina aproveitou para alfinetar o governo Dilma Rousseff (PT) dizendo que vários Estados só tiveram segurança durante a Copa.

Privatizações
No segundo bloco do debate, a presidente e candidata à reeleição pelo PT, Dilma Rousseff, antes de responder a pergunta do candidato do PV, Eduardo Jorge, se não ficava triste com a morte de jovens que fizeram aborto, defendeu a ação de seu governo no caso Petrobras, destacando que o ex-diretor da empresa Paulo Roberto da Costa confirmou à CPI que, a pedido da diretoria da estatal, fez uma carta de demissão. "No tema corrupção, eu gostaria de fazer um esclarecimento. Foi dito que eu menti sobre a corrupção na Petrobras, mas foi o ex-diretor que fez a carta de demissão a pedido da diretoria, disse, dizendo que "é má-fé" negar os fatos.

Ao responder sobre a morte das jovens, disse que a legislação atual prevê interrupção da gravidez em três casos e nesses casos com autorização da gestante. Na réplica, Eduardo Jorge (PV) argumentou: "Eu acho que se a senhora se reeleger, eu gostaria que reconsiderasse e pelo menos pensasse em apoiar o PV em revogar essa lei machista que mata mulheres como Jandira (que morreu no Rio de Janeiro ao fazer aborto), eu peço que repense a legislação sobre o aborto."

Dilma questionou o presidenciável tucano Aécio Neves sobre a hipótese de privatizar o Banco do Brasil, Caixa, Petrobras e BNDES, um tema que levou o PSDB a ser derrotado nas urnas pelo PT no pleito que elegeu o ex-presidente petista Luiz Inácio Lula da Silva. Antes de responder, o tucano voltou ao escândalo da Petrobras. "Faltou à senhora dizer quais foram os serviços prestados por Paulo Roberto Costa à Petrobras." E sobre a privatização dessas empresas, afirmou: "Imagine uma Embraer nas mãos do PT. Fizemos (governo tucano de FHC) as privatizações em setores que eram necessários. No nosso governo, a Petrobras vai ser devolvida aos brasileiros. Os bancos públicos não serão cabides de emprego." E ouviu a réplica da petista: "Vocês entregaram a Caixa e o Banco do Brasil em estado precário (para o governo petista)" e disse achar estranho "a leveza" com que o tucano tratava um tema tão complexo como a privatização de empresas públicas. Na tréplica, Aécio devolveu o ataque: "A indignação do povo é contra o aparelhamento de empresas públicas por seu governo, vocês entregaram nossa maior empresa e eu espero devolvê-la ao povo brasileiro."

Banco Central
Em seguida, Marina Silva (PSB) questionou Dilma Rousseff sobre o papel do Banco Central. "A senhora tem feito uma série de acusações sobre a autonomia do Banco Central, que a senhora defendeu na campanha de 2010 contra José Serra (PSDB). Qual Dilma está falando agora?" Na resposta, Dilma atacou: "A senhora está deliberadamente confundindo autonomia com independência. Independentes só são os poderes. Independência do Banco Central é dar um quarto poder aos bancos, sou a favor da autonomia. Ela tem que ser uma opção que os governos fazem em relação a uma política de combate à inflação. Sugiro que a senhora leia o que escreveram no seu programa." E emendou: "Quando se escolhe um presidente, se escolhe também uma política econômica."

Na réplica, Marina atacou: "Está falando a Dilma das eleições e não a Dilma das convicções. Por não ter sido nem vereadora e ter sido presidente da República, confunde os poderes". E ouviu de Dilma na tréplica: "Informo à candidata que a inflação está sob controle. Acho importante ela ler o que está no programa, até porque eu não tenho responsabilidade sobre isso. Quer dizer então, candidata, que quem não fez a carreira não pode ser presidenta? Essa crítica da inexperiência me surpreende em quem defende a nova política."

O Pastor Everaldo (PSC), o próximo a fazer perguntas, foi interrompido pelo mediador William Bonner ao tentar fazer uma pergunta sobre o PAC, que ele ironizou dizendo que era o 'programa do atraso do crescimento' e foi informado que tinha de perguntar sobre previdência, tema sorteado por Bonner. Na resposta, o candidato Aécio Neves disse que começou a discutir essa reforma na Granja do Torto, na gestão de Lula, quando era governador de Minas Gerais. "O Brasil tem um problema grave de previdência. Eu era governador em Minas Gerais, em 2006, e ali começamos a discutir um projeto viável, racional, para o sistema de previdência no Brasil. E avançamos. Infelizmente, o presidente da República (o petista Luiz Inácio Lula da Silva) arquivou esta proposta de reforma. Assim como arquivou todas as outras."

Política penitenciária
Eduardo Jorge (PV) questionou Marina Silva (PSB) sobre que propostas teria para a questão penitenciária. Marina voltou a exaltar o programa pernambucano Pacto Pela Vida, do falecido Eduardo Campos, e falou sobre uma perspectiva mais humanizada de segurança, com envolvimento da sociedade.

O candidato do PV propôs penas alternativas e cumprimento mais adequado de medidas cautelares para combater a superlotação de presídios e cobrou de Marina uma resposta mais direta sobre as penitenciárias brasileiras, ao que Marina falou sobre a importância da agilização de processos e provimento de serviço público de advocacia.

Nessa troca, Jorge mencionou processos de demarcação de terras indígenas parados no Ministério da Justiça, ao que Marina aproveitou para alfinetar o governo Dilma Rousseff (PT) e dizer que esta é a gestão com menor índice de demarcação de terra indígena.


Época

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